O primeiro estágio.

Uma das minhas grandes preocupações antes de entrar para TF era o facto de não saber como iria lidar com as crianças. O nosso curso tem uma grande vertende ligada às crianças, e embora eu adore crianças a verdade é que elas são os seres mais imprevisíveis à face da terra, e eu sempre tive um pouco de receio por isso. Numa das primeiras aulas de Aquisição e Desenvolvimento da Linguagem (mais conhecido por ADL) a professora pos-nos ao corrente de que iriamos ter estágio em todos os semestres de todos os anos, e que portanto neste 1º semestre de 1º ano o estágio que iriamos ter era nesta unidade curricular e, consistiria em irmos para um Jardim de Infância recolher material que nos seria proposto nas horas tutoriais da unidade curricular, e que posteriormente iriamos nós contruir um teste para avaliar as crianças. Posto isto, mal oiço "Jardim de Infância" o meu primeiro pensamento foi "Onde é que é a saida de emergência mais próxima??!!", os que se sucederam também não foram melhores desde "E agora o que é que eu faço?! E se as coisas não correrem bem? Mas se não correrem bem também significa que em determinado campo não vou ser suficientemente boa. E eu preciso ter boa nota, a cadeira vale 7 créditos!! 7 créditos!!!!" , até "Está decidido, vou fugir!". Depois de uma conversa com a minha mãe, as mães são sempre boas nestes campos, lá me convenci que secalhar não ia ser assim tão dificil como eu estava a pensar, e que se eu adorava crianças porque não trabalhar também com elas?
E no primeiro dia lá fui eu, um bocadinho a medo, com muitos nervos em cima. Chego ao Jardim de Infância (cujo o nome não vou poder referir por motivos obvios.) por volta das 9h00m, com mais duas colegas/amigas que também calharam naquele mesmo Jardim e conhecemos logo uma das educadoras, que iria acompanhar uma de nós, que nos diz que o estágio só começava às 9h30m, portanto poderiamos ir beber um café ou comer qualquer coisa. Saímos do Jardim e inevitávelmente começámos logo a comentar a estrutura do Jardim (muito bem feita por sinal, com bastante espaço para as crianças brincarem, com uma arquitectura extremamente bonita, com parque infantil, com um refeitorio todo revestido de vidros em que as crianças podem estar a almoçar e a ver o espaço verde que o rodeia.etc.), quem iria ficar com que idade e decidimos que deixariamos ao critério das educadoras escolher isso, para não existir conflitos. Depois do café, voltamos então para o Jardim, onde pedimos às educadoras que escolhessem. Coitadas, recorreram ao mecanismo do pim-pum-neta, tendo em conta que nunca nos tinham visto mais gordas já seria de esperar. Acabei por ficar com os 4 anos, com a dona do Infantário , uma pessoa excelente, extremamente dinâmica, extremamente acessivel, com uma amabilidade para com as crianças e não só, fora de série.
Entrámos para a sala, tirei a grelha que tinha para preencher, fiz algumas perguntas à educadora onde esta se disponibilizou prontamente a ajudar-me em tudo o que fosse necessário. Sentei-me numa das mini cadeiras da sala e comecei por fazer conversa com algumas crianças. Depois de ter a grelha toda preenchida passei a manhã a tentar conquistar as crianças, no final da manhã já eu estava sentada no chão a fazer um jogo com uma delas. Nem dei pelo tempo passar. Sai de lá muito contente porque o meu problema tinha sido superado.
Mas o melhor...ah, o melhor foi a partir da 2ª vez que lá fui. Entro no infantário vem um bando de crianças a correr ter comigo para me dar um beijinho e para me abraçarem.Senti-me tão bem-vinda. Foi tão bom, tão gratificante que eu jamais conseguirei descrever aquilo que senti naquele momento. E em cada vez que lá ia, sentia-me mais entregue às crianças, sentia-me melhor. Era mais feliz lá dentro. Há qualquer coisa que renasce em nós quando uma delas nos vem dar um beijinho e diz "sabes, eu gosto muito de ti.", é como se nos agarrassem para sempre. É tão fácil criar ligações com eles, porque eles são tão dados, tão genuinos, tão puros...
Ontem foi o último dia de estágio, levei chocolates para os meninos e bombons para a educadora. Não ficámos lá a manhã toda, deixaram-nos vir embora mais cedo. Preferi não dizer que era o último dia, nem me despedir. Dei os chocolates, eles agradeceram e eu disse "até à próxima meus lindos." e vim-me embora.
Não gosto de despedidas. E vou lá voltar. Não agora que ando atolhada em coisas para fazer. Mas quando tiver um tempinho livre dou lá um saltinho.
Há experiências que mudam a nossa vida, a nossa maneira de pensar e aquilo que somos. Esta foi sem dúvida uma delas.

(Hoje o trabalho foi entregue, para a semana apresentamos e trabalho concluido.)